quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Resenha: O Alienista - Machado de Assis


Sinopse: Simão Bacamarte, dedicado estudioso da mente humana, decide construir a "Casa Verde" - um hospício para tratar os doentes mentais na pequena cidade de Itaguaí. A decisão de quem deveria ser internado era inteiramente sua, assim como a definição de loucura, que muda diversas vezes ao longo do texto.

Existem limites entre loucura e a razão? Se existem, quais são eles? E quem está autorizado a apontá-los? Publicado entre 1881 e 1882 no periódico A Estação, o conto O alienista, de Machado de Assis, discute a existência da norma e a delimitação entre loucura e razão. 

Ao relatar a história da criação de um asilo em uma pequena cidade do interior do Brasil, Machado de Assis nos oferece uma análise contundente, bem como extremamente irônica, do que foi a prática psiquiátrica em seu início.

Através da sátira à adesão incondicional à ciência e da crítica à psiquiatria do século XIX, o autor aborda muitas questões ao longo do conto: o processo de disciplinar e transformar em patologias as singularidades; a loucura, que aparece tanto onde é esperada – nos loucos, no asilo –, como onde não a procuramos – no médico, no poder político. Mostra também o poder que a ciência representa e/ou assume para a sociedade, pois as idéias de Simão Bacamarte, embora muitas vezes tenham sido contestadas, foram aceitas posteriormente frente à fundamentação científica de seus argumentos. 

Nesse sentido, a questão principal é o papel assumido pela ciência de atrair para si o direito de decidir ou determinar, a partir do método científico, pautado pela racionalidade, o que excede ou não determinado limite. O Dr. Simão Bacamarte considerava-se conhecedor da técnica de diagnóstico e tratamento das doenças mentais, o que lhe garantia o poder de agir sobre os loucos da cidade, experimentando neles suas teorias. Se o resultado de tais experiências fosse a cura não haveria por que questioná-lo. A ciência afirma seu poder baseada na idéia de que a superioridade do homem está no saber. Como personificação da ciência, Bacamarte se coloca, portanto, ideologicamente como verdade inquestionável.

Por intermédio de Simão Bacamarte, o autor denuncia ainda a função da psiquiatria na construção do ideal de normalidade e de sociedade, bem como a relação entre psiquiatria e ordem pública.

O livro é pequeno, daqueles que a gente termina de ler em poucas horas e tem o estilo inconfundível de Machado de Assis. Já li e reli muitas vezes e usei, inclusive, na minha monografia da faculdade. Obrigatório na estante dos viciados em livros!

http://blog-entre-aspas.blogspot.com.br/2013/02/resenha-o-alienista-machado-de-assis.html

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