Sinopse: Simão Bacamarte, dedicado estudioso da
mente humana, decide construir a "Casa Verde" - um hospício para
tratar os doentes mentais na pequena cidade de Itaguaí. A decisão de quem
deveria ser internado era inteiramente sua, assim como a definição de loucura,
que muda diversas vezes ao longo do texto.
Existem limites entre loucura e a
razão? Se existem, quais são eles? E quem está autorizado a apontá-los?
Publicado entre 1881 e 1882 no periódico A Estação, o conto O
alienista, de Machado de Assis, discute a existência da norma e a delimitação
entre loucura e razão.
Ao relatar a história da criação de
um asilo em uma pequena cidade do interior do Brasil, Machado de Assis nos
oferece uma análise contundente, bem como extremamente irônica, do que foi a
prática psiquiátrica em seu início.
Através da sátira à adesão
incondicional à ciência e da crítica à psiquiatria do século XIX, o autor
aborda muitas questões ao longo do conto: o processo de disciplinar e
transformar em patologias as singularidades; a loucura, que aparece tanto onde
é esperada – nos loucos, no asilo –, como onde não a procuramos – no médico, no
poder político. Mostra também o poder que a ciência representa e/ou assume para
a sociedade, pois as idéias de Simão Bacamarte, embora muitas vezes tenham sido
contestadas, foram aceitas posteriormente frente à fundamentação científica de
seus argumentos.
Nesse sentido, a questão principal é
o papel assumido pela ciência de atrair para si o direito de decidir ou
determinar, a partir do método científico, pautado pela racionalidade, o que
excede ou não determinado limite. O Dr. Simão Bacamarte considerava-se
conhecedor da técnica de diagnóstico e tratamento das doenças mentais, o que
lhe garantia o poder de agir sobre os loucos da cidade, experimentando neles
suas teorias. Se o resultado de tais experiências fosse a cura não haveria por
que questioná-lo. A ciência afirma seu poder baseada na idéia de que a
superioridade do homem está no saber. Como personificação da ciência, Bacamarte
se coloca, portanto, ideologicamente como verdade inquestionável.
Por intermédio de
Simão Bacamarte, o autor denuncia ainda a função da psiquiatria na construção
do ideal de normalidade e de sociedade, bem como a relação entre psiquiatria e
ordem pública.
O
livro é pequeno, daqueles que a gente termina de ler em poucas horas e
tem o estilo inconfundível de Machado de Assis. Já li e reli muitas
vezes e usei, inclusive, na minha monografia da faculdade. Obrigatório
na estante dos viciados em livros!
http://blog-entre-aspas.blogspot.com.br/2013/02/resenha-o-alienista-machado-de-assis.html
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